Tem gente que acorda hoje só pra morrer mais um pouquinho até amanhã, só pra dar um pouquinho de desgosto na vida dos desvalidos, só pra pisar na bola e negar a mão à um amigo estendido ou mesmo para não olhar nos olhos dos cotidianos cansados.

Cada dia mais vai morrendo, desgostando e desaprendo a vida. Ah, porque aprender é viver com alegria, é viver sem ter tempo de não ter tempo, viver é amar o próximo passo e fazê-lo como se fosse a útima vez que o pudesse fazer, como se fosse a única coisa que o fizesse alcançar o amanhã.

Mas tem gente que não faz, tem gente que sabe que é a última vez e mesmo assim faz pose de durão, enfrenta a felicidade com todo o arrependimento do mundo, com todo o medo de arriscar e dizer a verdade. Enfrenta a verdade com mentira, um olhar com uma risadinha ou mesmo um amanhã com um ontém já ultrapassado.

Morre todo dia e acorda tarde, acorda atrasado, não para, não pensa, não brinca e não lê. Tem tanto tempo pra perder tempo que fica sem tempo mesmo, fica sem espaço também e assim não viaja, não conhece e assim desiste rápido dos sonhos, encara mais um dia como se fosse sempre mais um dia e com o peso de só mais um dia.

E se um dia o mundo inteiro acordasse, mais cedo, um pouco mais cedo a cada dia, e cada dia mais, mais amigos fossem amigos de mais amigos, e se um dia tudo isso vir à tona, num sonho desvairado, num pensamento delirante ou mesmo num texto sincero... e se esse "se" for verdade? Certamente não é certo, nem errado, nem fácil, nem difícil, nem tão pouco mediano.

Quando ser for uma questão de honra, quando olhar nos olhos for uma necessidade, uma obrigação, quando apertar a mão e ser amigo um precedente para qualquer negócio, aí sim teremos a terra dos homens cheia de vida, cheia de pessoas hoje construindo o amanhã, pensando na felicidade antes de pensar no salário ou no salafrário, olhando pra sí assim como olha pro próximo ou como olha para o espelho, envaidecido pela beleza que é se reconhecer.