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Segunda-feira, Janeiro 30, 2006

Enquanto isso e por enquanto...


Enquanto Mônica tomava uma bala numa rave do outro lado da cidade
Eduardo, 16 anos, tomava uma bala na cabeça
num assalto a mão armada:
ele não quis se desfazer
do seu microcelular
que tudo faz e tudo vê.
À beira do abismo do caos de concretos
fatos falsos estampam manchetes coloridas
Sorria, você está sendo filmado calado comprado vendido
a inumeráveis prestações de juros estratosféricos
Sorria, ainda está vivo
seu corpo
no vai-e-vem absorto de cacos de corpos
mortos aos poucos
Entra em rede, se prende, se perde
- vai scrap no orkut!
Enquanto Ronie criava uma nova comunidade
racista, nazista, machista, sexista, tudoista e mais um pouco
Mais um louco estrebuchava eletrocutados neurônios
num manicômio em regime fechado
O bicho comia solto
em velhas comunidades de favelas
no fogo cruzado entre o crime organizado e o desorganizado
Tantas velas consumiam-se em novos caixões
Outras tantas procissões rogavam um Deus em salvação
Um deles disse não em seita suicida
Um outro deu receita: compre sua vida
após a morte
E todo o mundo foi entregue à própria sorte
ou azar
Alguém deu grito salve-se quem puder
é cada um por si e Deus por mais ninguém!
Uns contra todos e todos por nenhum!
Um outro viu além, não disse amém, bradou uni-vos!
Ninguém ouviu seus uivos.
Enquanto Laurinha comprava
uma roupa última moda
Madalena era estuprada
à moda antiga
Maria entoava mais uma cantiga de roda
O mundo girava a roda viva
A cidade corria, corria, corria
e na pressa ninguém se lembrou de viver
Teve também quem não achasse meios
e todos aqueles que se ofereceram aos arreios
Enquanto isso e muito mais,
e por enquanto em todo canto,
ainda ouço um uivo gemido tímido ecoar nos meus ouvidos:
uni-vos! uni-vos! uni-vos!


Poesia de Beatriz Tavares
www.numanoitequalquer.blogspot.com

Colaboração: Guilherme Meneghelli
1/30/2006 07:51:00 PM
 

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